A Polícia Civil do Maranhão deve pedir a prorrogação do inquérito de Hamilton Bandeira, o jovem com deficiência mental que foi morto por policiais dentro de casa em Presidente Dutra, a 354 km de São Luís. A polícia, que aguarda o laudo feito no corpo do jovem, após a exumação, pretende realizar uma reconstituição simulada.
Depois de quase um mês, as investigações ainda não foram concluídas. Um dos principais exames, o cadavérico, só foi feito pela perícia há uma semana. O corpo de Hamilton foi desenterrado 26 dias após o homicídio.
Segundo o perito geral da perícia oficial do estado, Miguel Alves, se houver uma bala identificada durante a reconstituição poderá ser possível uma identificação de quem disparou o tiro que matou Hamilton. “A um certo prejuízo por conta do decurso do tempo, mas em havendo projeteis sendo recuperados não haverá prejuízo no confronto balístico para a identificação da autoria da produção do tiro. Todas as informações serão transformadas em laudo pericial e esse laudo emitido a autoridade que preside o inquérito policial”.
Hamilton César Bandeira, de 23 anos, que sofria de deficiência mental foi morto a tiros por policiais civis no dia 17 de junho no município de Presidente Dutra. Os policiais teriam ido a casa do rapaz para entregar uma intimação e apurar uma denúncia de que ele estaria fazendo apologia ao crime pelas redes sociais, e alegaram que o jovem estava armado com uma faca na hora da abordagem, mas o avô dele que estava no local nega.
A Delegacia Regional de Presidente Dutra abriu a investigação, que depois passou a ser feita por uma força tarefa de delegados da Superintendência de Homicídios da capital e da Superintendência de Combate a Corrução (Seccor), que investiga crimes de servidores públicos. Até agora 24 pessoas já prestaram depoimento sobre o caso.
O secretário de Segurança Pública do Maranhão, Jefferson Portela, revela que já foram ouvidos durante as investigações pessoas próximas de Hamilton, além de autoridades policiais.“Foram ouvidos os médicos no atendimento inicial, moradores, os policiais que atuaram nesta missão, familiares do Hamilton e os delegados continuam com o procedimento aguardando o resultado dos exames que já foram realizados”.
O prazo de conclusão do inquérito termina nesta quarta-feira (21), mas como a polícia ainda não tem o resultado dos laudos periciais, deve pedir a prorrogação do prazo das investigações. O superintendente da Superintendência de Polícia Civil do interior, delegado Guilherme Campelo, as equipes policiais estão concentradas no intuito de resolver logo o caso. “Não adianta se querer correr muito com a investigação e não trazer um resultado satisfatório. Então, eu acredito que pela experiência dos investigadores, dos delegados envolvidos no caso, inclusive são de outras superintendências, eles só vão encerrar os trabalhos quando, de fato, puderem dar uma resposta coesa e concisa para a população”.
A polícia aguarda o resultado dos exames feitos pela perícia no corpo da vítima e no local onde ocorreu o homicídio, para iniciar uma reconstituição simulada dos fatos, para esclarecer o que aconteceu na ação que resultou na morte de Hamilton Bandeira.
O secretário Jefferson Portela pontua que a prorrogação do prazo para a conclusão agora vai ficar a cargo do delegado responsável pelo caso. “Tecnicamente após 30 dias o delegado pede uma prorrogação de prazo que fica ajuízo da autoridade que preside o inquérito. Analisando os fatos em relação a documentos que ele aguarda ele pedirá num determinado tempo a prorrogação para a conclusão do procedimento investigatório”.
Entenda o caso
Ao G1, a Polícia Civil informou que foi chamada até a casa de Hamilton após denúncias de moradores de que o jovem, identificado como Hamilton Cesar Lima Bandeira, de 23 anos, estaria fazendo ameaças e apologia ao crime.
Segundo a polícia, os agentes foram ameaçados pelo rapaz que estava em posse de uma faca. Ao tentar conter Hamilton Cesar, os agentes atiraram contra o rapaz. Ele chegou a ser socorrido e levado para o hospital da região com vida, mas acabou não resistindo aos ferimentos e morreu.
Uma equipe da Secretaria de Estado de Direitos Humanos (SEDIHPOP) está acompanhando o caso. Ainda em nota, a Polícia Civil lamentou profundamente o fato e solidarizou com a família do jovem.
Família contesta versão
Ao G1, o pai de Hamilton, Antônio Bandeira afirmou que o jovem não estava armado no momento da ação policial. Ele afirma que o filho não era agressivo e tinha deficiência mental.
"Não tinha o maior sentido do mundo eles chegarem lá assassinando ele. E ele não usava ferramenta nenhuma. A polícia não falou nada, quando chegou lá, foi metendo bala e quase matou um idoso de 100 anos", disse.
Veja, abaixo, o que disse a Polícia do Maranhão:
"A Polícia Civil do Maranhão (PC-MA) informa que na última sexta-feira (17), após denúncias de moradores, atendeu a uma ocorrência de ameaça e apologia ao crime em uma residência no povoado de Calumbi. Quando chegaram ao local, os policiais foram ameaçados pelo suspeito que estava de posse de uma arma branca (faca). Para conter a situação, os agentes atiraram e um dos disparos atingiu ao rapaz, que foi socorrido pelos policiais, levado ao hospital com vida, mas acabou vindo a óbito. A Polícia Civil do Maranhão lamenta profundamente o fato e se solidariza com a família. Pontua, ainda, que um inquérito policial foi instaurado para apurar as circunstâncias da ocorrência. Uma equipe da Secretaria de Estado de Direitos Humanos (SEDIHPOP) está acompanhando o caso."
Protesto da população
Moradores da cidade de Presidente Dutra, no Maranhão, fizeram um protesto no dia 23 de junho para cobrar justiça no caso Hamilton Cesar Lima Bandeira, de 23 anos, que foi morto no dia 18 de junho dentro de casa, por policiais civis.
O protesto na comunidade Calumbi acontece após a fala do secretário de Segurança Pública, Jefferson Portela, que decidiu não afastar os policiais que atiraram no jovem por 'não haver elementos que afirmem que Hamilton foi assassinado pelos policiais'. Em nota, a Polícia Civil tinha informado que os agentes tinha sido afastados para o decorrer das investigações.
Por G1 MA