2019 618 mil pessoas foram assassinadas entre 2007 e 2017 no Brasil; 92 % são homens, pobres, jovens e de baixa escolaridade


É como se matassem 2 vezes toda a população de Palmas, no Tocantins; como se exterminassem toda a população de Cuiabá, no Mato Grosso; como se fuzilassem mais da metade da população de São Luís, no Maranhão.

JM Cunha Santos



São estarrecedores os números divulgados pelo Atlas da Violência. A violência no Brasil. Em 10 anos, de 2007 a 2017, 618 mil pessoas foram assassinadas neste país. É como se matassem mais de 2 vezes toda a população de Palmas, no Tocantins (291 mil habitantes); como se exterminassem toda a população de Cuiabá, no Mato Grosso (607 mil habitantes); como se fuzilassem a metade da população, hoje, de São Luís, aqui no Maranhão. (1 milhão e 97 mil habitantes)
O número de homicídios no Brasil é 30 vezes o da Europa. Os homicídios foram a causa de 51,8 % de todas as mortes na faixa entre 15 e 19 anos de idade. É tão assustador que esse extermínio da juventude já é apontado pelos pesquisadores como causa da redução de homicídios em diversos estados, ao lado do Estatuto do Desarmamento.
LIMPEZA ÉTNICA
Na letra fria dos números, é como se o Brasil promovesse uma limpeza étnica juvenil, inconsciente talvez. E a miséria continua sendo a mãe da letalidade social que acontece no país: 43,1 % dos assassinatos são cometidos contra negros pobres e de baixa escolaridade. Houve também um aumento de 30,7 % nos crimes de feminicídio na última década. 1,6 % a mais de assassinatos de mulheres não negras e 29,9 % de mulheres negras. As negras representam 60 % do total de mulheres assassinadas. No grupo LGBT, o registro de denúncias de homicídios cresceu 127 %.
Dos 618 mil assassinados cometidos entre 2007 e 2017, 92 % das vítimas são homens, jovens, pobres e com baixa escolaridade; 80 % são solteiros e mais de 76 % dos homicídios foram cometidos com armas de fogo.
As guerras entre facções criminosas, decretadas a partir de junho e julho de 2016, estão entre as principais motivações dos mais de 65 mil assassinatos ocorridos no Brasil em 2017. Eram 4 as principais facções criminosas até 10 anos atrás. Hoje, os órgãos de segurança calculam em torno de 70 facções espalhadas pelo país.
Uma arma de fogo tem vida útil de 50 anos, se for bem cuidada. Um jovem pobre pode ter apenas 29 anos de vida útil (ou inútil), porque quase sempre, desde a infância, não é bem cuidado no Brasil.
E querem colocar mais 20 milhões de armas de fogo dentro das casas nas ruas...